sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Capítulo 18 Todo mundo odeia cartas.


                                           “E essa foi minha carta. Legal, não é? Perfeita.”

Sabe, andei pensando – cof, cof – e estou me perguntando se Harry contou pro Niall sobre mim. Ele não faria isso, faria? FARIA!
Mas não importa, só adiantaria o meu trabalho.
Voltei da casa do Niall com aquele sorriso besta e quase derrubando os cadernos de tanta tremedeira. Parecia até uma britadeira. Depois disso ele deve me achar ainda mais retardada, mesmo se o Harry já tiver contado pra ele sobre os meus sentimentos.
Como sou muito cuidadosa com as coisas dos outros, assim que cheguei no meu quarto joguei os cadernos no chão e me joguei na minha cama.
Minha cabeça está girando tanto, e eu estou sorrindo tanto que acho que as minhas bochechas vão rasgar.
Mas se o Harry tivesse mesmo contado... O Niall não deveria dizer alguma coisa, sei lá? Vai ver ele está esperando eu mesma me confessar. E é isso que eu vou fazer!
Corri até a minha escrivaninha, tropeçando em algumas coisas no caminho.
–Vamos ver. – Comecei a falar comigo mesma enquanto pegava um caderno qualquer e uma caneta. – “Eu te amo, amor da minha vida... Minha privada entupida.” Não! Que idiotice é essa? – E lá se vai uma folha do meu caderno. – “Rosas são vermelhas, violetas são azuis. Eu te amo; você me seduz.” Argh! – E lá se vai outra folha. – Ok. Vou fazer do meu jeitão, e que se dane!
Ui. Comecei com uma determinação enorme. Uma determinação que só durou até às nove da noite. O problema é que eu só fui terminar a carta lá pelas três e lá vai pelancas da madrugada. Esse negócio de pensar e escrever demora, ainda mais de é uma declaração!
Liam e Louis me ligaram lá pelas sete da noite, só pra encher o saco mesmo e me perguntar como estava meu braço. Enfim...
Me sinto feliz. Acho que escrevi tudo o que tinha pra escrever. Expus meus sentimentos e... Tormentos. No final da carta estava até dormindo sobre a folha, mas dá pra ler.
A questão é: Como vou entregar isso pra ele? Já sei, vou socar na mochila dele na escola quando todos tiverem saído para o intervalo. Não tem como ele não ver. Cara, eu sou um gênio!
Enfim o dia amanheceu e eu saí numa euforia danada. Mesmo tendo me atrasado, é claro, e mesmo tendo que andar um monte.
Assim que cheguei sorri pro meus dois amigos e meu futuro namorado, o que deixou todo mundo com uma cara de “aqueles não são os Teletubbies vendo ‘coisas indevidas’ nas suas televisõezinhas?” por conta da minha repentina felicidade. Mas assim que olhava para Harry minha “face diária” voltava... Isso até eu olhar um pouquinho pra frente e ver Niall ali. Ai, ai, ai.
–Estranho, muito estranho... – Louis murmurou, recebendo... Um sorriso meu.
Estava esperançosa, e nem o fato de descobrir que Sam está na mesma sala que a gente tirou minhas esperanças. Sim, não tinha notado que ela estava na nossa sala. Aliás, eu nunca noto algo, até que esse algo passe a incomodar na minha vida. Ela não olhou para o fundo da sala nem uma única vez; vai ver ela se deu conta de que o Niall é meu!
Tentei ficar puxando assunto com o Niall  e acho que o agradeci umas trinta e três vezes por ter me emprestado a matéria do dia anterior. Harry até implicou porque o Niall acabou emprestando um caderno dele também, e eu simplesmente o ignorei. Mas enfim o sinal do intervalo tocou, e eu fiquei simplesmente parada na minha carteira com um sorriso enorme.
–Você não vem, Emily? – Liam me perguntou, e eu como sou uma boa atriz, apenas respondi um “já vou”.
A sala inteira ficou vazia e eu cumpri a missão, capitão. Coloquei a carta sã e salva na bolsa do Niall.
As aulas foram monótonas, como sempre; tivemos Educação Física, mas eu nem pude fazer por causa do meu braço. Viva!
Depois de mais um dia inútil da escola, dos meus amigos me encarando e uma detenção “super legal” depois que minha diretora me condenou a isso por três meses, eu voltei pra casa. Não encontrei com os gêmeos no caminho, e quando percebi que a Zooey vinha com aquele carrinho dela eu me escondi atrás de um poste enquanto rezava pra ela capotar. Yeah!
Cheguei em casa, tomei um banho demorado – entenda-se: tentei me matar demoradamente –, com direito a gargalhadas quando pisei no sabonete e consecutivamente escorreguei e soquei a testa na parede. Coloquei um pijama de vaquinha, já que meu plano era dormir a tarde toda. Comi bastante... E fui assistir televisão.
Na verdade não estava nem aí pra TV. Fico repassando tudo na minha mente cheia de titica de galinha e eu me lembro perfeitamente do que escrevi na carta:
“ Querido Niall...
Era uma vez uma menina bobona, com gastrite e sem coração que se apaixonou. Fim.
Não, não é o fim... Essa menina se apaixonou e ficou ainda mais bobona. Não deve estar entendendo nada, não é? O que quero dizer é: a menina na verdade não tinha gastrite, ok? Não sei porque escrevi isso. Passar bem.
Olha, estou ligeiramente confusa sobre o que escrever aqui, e na verdade não sei como te dizer isso, mas... Eu te- Espera, tem alguém me ligando...
Voltei. Sabe, estou ligeiramente confusa sobre o que escrever. Acho que já disse isso, não?
O fato é que... Eu não gosto de aranhas. Pronto, falei. Aranhas são... Aranhas, é.
Já deve ter notado que essa menina bobona, SEM gastrite e sem coração que se apaixonou sou eu, não é? Pois caso não tenha notado, note!
Essa menina sou eu, e o menino pela qual me apaixonei é você, seu trouxa. Ok, eu não quis dizer “trouxa” e estou com preguiça de ir rabiscar. Que seja.
Eu acho que te... Amo. Sim, eu te amo do fundo do meu pâncreas.
Por que você fez isso comigo, hein? Me diz. Me diz porque tudo o que eu mais quero é saber o porquê. Mentira. Tudo o que eu mais quero é ir no seu quarto e te agarrar. Ok, não agarrar, agarrar... Mas... Agarrar. Entendeu?
Quando eu te vejo, eu me sinto como se fosse... Um bolinho de arroz. Sim, um bolinho de arroz feliz.
E ainda não acredito que escrevi que quero te agarrar. Mas tudo bem, porque o amor é louco mesmo.
Não sei o que devo fazer, e isso é assustador. Às vezes acho que posso até cair de nariz no chão só de olhar pra você, de tanto que as minhas pernas tremem. Tudo aconteceu muito rápido e... Eu simplesmente não sei o que fazer.
Será que... Você pode me responder?
Fica aqui a minha declaração, e saiba que eu te amo do fundo do meu pulmão. Um beijo.
Fim.
...
Não. Infinitos beijos e mais um de brinde. Fim definitivo. ”
E essa foi minha carta. Legal, não é? Perfeita.
Sorri, agora prestando atenção da televisão. Sabe o que estava passando? Uma novela qualquer, escrita por... John Shepard.
...
Silêncio.
...
PUTAQUEPARIU! Esqueci de colocar meu nome! Esqueci de colocar meu nome na carta! Ela vai adivinhar que fui eu?
ESQUECI! E AGORA?! E AGORA?! O QUE EU FAÇO?!

domingo, 12 de janeiro de 2014

Capítulo 17 - Todo mundo odeia não saber agir.


“Ai, que ódio de mim!”
Qual é o cúmulo do absurdo? Acho que é correr sozinho e chegar em segundo lugar. Não, não é isso não. O cúmulo do absurdo é Harry Styles vir no meu quarto e querer usurpar minha guitarra se aproveitando da minha desvantagem em relacionamentos amorosos. Isso sim é o cúmulo.
É o fim querer se aproveitar de mim só porque eu estou doente... Doente de amor. Eu sei que isso soa meio – muito – estúpido mas de repente todas aquelas músicas idiotas de amor parecem fazer sentido.
Esse novo sentimento me faz ficar confusa, perdida, desesperada, amedrontada e... Com fome. Isso, estou com fome e apaixonada por um cara que conheço não tem nem uma semana.
Depois de três horas consegui proteger o gesso no meu braço com um papel plástico e fui tomar banho, ou tentar me matar, que é como prefiro definir esses momentos trágicos dos meus dias.
Enfim... Depois que terminei de tentar me matar, coloquei um short jeans, uma camiseta preta do Ramones e um dos meus all star que achei jogado pelo quarto.
Fui pra cozinha comer alguma coisa. O problema era que só tinha o cereal barato que a minha mãe compra. Pra completar eu esqueci de fechar a caixa e por isso ele não estava mais crocante. Trágico, trágico... Eu poderia até pedir uma pizza. PODERIA, se eu tivesse dinheiro, é claro.
Mãe desalmada essa minha, se ela estivesse tão preocupada como disse que estava por causa do meu pulso pelo menos teria feito alguma coisa pra eu comer.

Ah, achei um pacote de cookies também quando fui pegar o leite na geladeira. Sim, o pacote estava dentro da geladeira. Anormal seria se ele estivesse no armário.

Achei mais algumas coisas comestíveis e também não comestíveis jogadas pela cozinha e comi até ver estrelas.

Até me engasguei com o chá gelado quando comecei a rir ao lembrar do Harry me pedindo desculpas e de como deixei todo mundo preocupado quando machuquei o pulso. O Harry pedindo desculpas? Tá aí uma coisa que não se vê todo dia. Mas então meu sorriso foi murchando, murchando... Me lembrei que eu caí por causa da Zooey, e Zooey me lembra líderes de torcida, e líderes de torcida me lembram Samantha, e Samantha me lembra Niall, e Niall me lembra... “estou ferrada”.

O Harry é um mentiroso e acho que só estava dizendo que o Niall gosta da Samantha pra pegar a minha guitarra, mas e se for verdade? E se for? Caramba, a primeira vez que estou apaixonada na vida e ainda não consigo ser feliz. Vida cruel, Manuel!
Mas então eu fui sorrindo de novo ao me lembrar do Niall e de como ele sorri. Vou na casa dele agora! Quer dizer... Daqui a pouquinho, vou só matar as borboletas no meu estômago e já volto.

_X_

Ai, será que eu devo? Será? Será? Ah, foda-se!
Toquei a campainha quando uma coragem que não sei de onde veio e me atingiu em um surto epilético descomunal. Ok. Eu só estou um pouquinho nervosa, quase nem se percebe.
Eu nunca acreditei em amor, e agora estou apaixonada... Como eu posso saber como devo agir?
O que eu devo dizer pro Niall? “Vim buscar a matéria, quer namorar comigo?”, isso?
Abri o meu melhor sorriso quando percebi que a porta estava sendo destrancada. Mas aí, quando abriram a porta, meu sorriso murchou e fiz cara de quem chupou limão. Adivinha quem era?
Harry me olhou de cima em baixo, fazendo uma cara de desprezo.
–Ô, NIALL, É PRA VOCÊ! – Harry gritou, saindo de casa e esbarrando em mim de propósito. Melhor que saia mesmo, e que morra também!
Fiquei parada com cara de tacho em frente à porta aberta, quando Niall apareceu todo sorridente.
–Emily! Como está o braço?
–Bom. – Dei de ombros. Minha voz saiu tão ‘doce’ que acho que consegui perfurar meus próprios tímpanos. Pobre Niall  eu não quero matar meu futuro namorado. Quer dizer... É, ele é meu e pronto. Acabou!
–Entra. – Ele segurou a minha mão direita, me puxando pra dentro enquanto com a sua mão livre fechava a porta. Ele soltou a minha mão e ficamos no meio da sala. – Por que não foi na escola hoje? Fiquei preocupado, já estava indo pra sua casa.
–Estava? – Quer dizer que... Ele estava? Viu? Ele me ama! – Eu não fui porque meu braço estava doendo muito. – Sim, eu menti. Mas é só pra ele ficar com dó de mim. – Então... Queria saber se você pode me emprestar a matéria. – Sorri.
–Ah, claro. Vamos ir pro meu quarto. – Bem que dizem que quando se está apaixonado qualquer coisa que a outra pessoa faça é motivo para nos dar “esperança”. Essa frase significou muito pra mim, ok?
–Ham... Claro. – O segui apressada subindo as escadas para o segundo andar. Entramos na segunda porta e lá estávamos nós, no quarto já conhecido por mim.
Uma coisa que notei no Niall, vulgo meu namorado, é ele tem a mania de ficar segurando na minha mão e guinado pra qualquer lugar que seja. Foi isso que ele fez. Segurou em minha mão e me fez sentar na cama dele, enquanto procurava algo pelo quarto.
–Ah, achei! – Exclamou feliz, pegando a mochila e também se sentando na cama, de frente para mim. – Olha só, faltou copiar alguns exercícios de Física. – Eu queria dizer: “Deixa pra lá, eu não vou copiar mesmo. E... Eu te amo, um beijo.”, mas antes que eu fizesse isso ele interrompeu meus pensamentos. – Acho que o Harry copiou. Ele deixou a mochila dele lá embaixo, vou lá buscar. Não sai daí. – Falou, já saindo do quarto.

Como se eu fosse sair daqui. Ai, que ódio de mim! Toda vez que ele está por perto eu fico sem ação.
Eu podia ficar me xingando até ele voltar, mas como não tenho educação, decidi fuçar nas coisas dele. Abri a mochila dele. Tinha uns três cadernos, algumas coisas... E, o que são esses papeis?

Peguei o tufo de papel no fundo da mochila e eram... Textos? Versos? Sim, textos, e todos eles escritos por Niall, que assinava seu nome no final de cada mensagem. Peguei uma folha e comecei a ler. Tinha cada coisa bonita escrita. Será que era ele mesmo que escrevia? Eram coisas tão... Perfeitas. Coisas sobre a vida, sobre união, sobre amizade... Amor. Ai, meu Deus. Eu acho que amo o Niall mais do que eu pensava.
Ouvi passos na escada e soquei tudo de volta pra dentro da mochila dele.
–Aqui, ó. Achei. – Balançou o caderno em uma das mãos, voltando a se sentar de frente para mim. – Então, tem... – O deixei falando sozinho enquanto entrava no meu estado de transe de novo. Ele é tão... Lindo. Tão perfeito. Como eu vou dizer pra ele que o amo? Como?
Não importa, já tenho a resposta: Através de uma carta, é claro. Se ele gosta tanto de versos e textos, por que não? É, essa é a solução! Aí eu vou escrever que o amo, ele vai ver que a Samantha não tem nada a ver com ele e me responder dizendo que me ama também, e seremos felizes para sempre. Perfeito, não?
–Não, eu não acho. – Ele me disse, assim, do nada. Será que ele lê mentes? Ai, me acode que eu vou ter um treco.
–O quê?!
–“Não, eu não acho”, foi isso que o professor de Filosofia disse quando um aluno perguntou se ele achava que Deus havia criado tudo. – Me respondeu. Ai, que alívio. Até suspirei com uma expressão estranha, o que o fez rir.
Cara, como eu sou idiota.